Confissão e "confissões" - debate 3

Não consegui ontem, como tinha anunciado,  inserir a contribuição de um chefe de escuteiros.

O texto é suficientemente explícito e interpelador.

Aqui vai:

Querido amigo e irmão em Cristo,

Grato pelas suas palavras vindas dessa quente e acolhedora África. 

Gostaria de partilhar algumas palavras sobre o tema Confissão e "confissões".

Quando da preparação para a minha Primeira Comunhão, com os meus 8 anitos, este tema mexeu comigo.Hoje, já com 62, a confissão das minhas faltas perante Deus é algo que ainda me incomoda:
A primeira situação de incómodo prende-se com o Ministro que, em nome de Deus, "ouve" a minha confissão. Digo ouve porque em muitas situações foi apenas isso que senti: Alguém a ouvir-me e... pouco mais! 
 
Tenho encontrado sacerdotes que partilham esse momento sacramental de uma forma pedagógica social e espiritualmente; mas também me deparo com homens que apenas ouvem, até, em alguns casos, nem isso parece estar a acontecer. 
A confissão é um encontro com Deus, cara a cara! Sendo assim, o representante de Deus tem que mostrar o rosto misericordioso de Deus e manifestar a sua alegria pela manifestação de arrependimento de quem se apresenta a Deus para o libertar dessa agonia.

Em tempos da minha juventude, na então grandiosa comunidade paroquial de Olivais Sul, havia o pároco, o saudoso Padre Rocha, que, em todas as primeiras quintas feiras de cada mês, promovia uma Celebração Penitencial. Uma Festa! Com cânticos, Salmos, Leituras e, para aqueles que precisassem ou quisessem, confissões. A comunidade aderiu com alegria e entusiasmo a estas celebrações.

Celebrar a confissão é celebrar um Sacramento. Os fiéis precisam de quem lhes transmita confiança e partilhem a alegria do seu arrependimento. Não de uma forma trágica; não de uma maneira retrógrada; não de um modo obsoleto. 
Celebrar o Sacramento da Confissão ou Reconciliação tem de ser com alegria, como novidade e com a importância de uma verdadeira Festa.

Actualmente, os jovens estão cada vez mais afastados deste Sacramento pois vêem alguma desconfiança neste ato. É preciso incutir a confiança que falta aos nossos jovens, proporcionando-lhes motivos de alegria e gestos atractivos que os cativem.

Para os casais, namorados, noivos ou esposos, é necessário implementar formas de celebrar este Sacramento que transmitam a alegria e a energia para uma verdadeira espiritualidade conjugal.

Grande abraço repleto de carinho

José Basílio
Paróquia de S.João da Talha (Diocese de Lisboa)
 Amanhã ou depois teremos um testemunho ainda mais interpelador. Reajam!

Confissão e confissões - debate 2

Como era de prever, continuam a chegar partilhas sobre assunto tão delicado e que cala tão fundo no coração de todos nós, sobretudo os católicos.
Hoje, insiro a breve partilha de um padre passionista, creio que por volta dos 60-70  anos de idade. E diz ele:
Caro Pe. José Luzia.
Bom Dia.
Tenho acompanhado os acontecimentos de Moçambique através do generoso envio dos jornais que o senhor tem religiosamente enviado. Fico imensamente agradecido por isso. Desta forma me mantenho ligado à boa terra em que tive oportunidade de residir por catorze anos.
Quanto à sua reflexão sobre Confissão e confissões me fez rever e avaliar a minha atuação sobre este sacramento. Por isso agradeço imensamente. 
Grande Abraço. 
Pe. Fernando. 
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Mas uma mulher profundamente comprometida na pastoral em que toda a vida se envolveu, tanto em Moçambique e, agora, em Portugal, reagiu assim:
A propósito das Celebrações Penitenciais, a nossa paróquia tem todo um historial:
Enquanto estiveram os Padres Carlos e Tiago, 2 ou 3 vezes no ano, durante os tempos litúrgicos fortes, havia Celebrações Penitenciais muito inspiradoras nas quais participavam quase todos os paroquianos.
O Padre que se seguiu respeitou a tradição.
Depois veio um brasileiro que acabou com tudo dizendo que não era válido e as pessoas (a maioria) deixou de se confessar. Já lá vão 2 anos.
No Próximo domingo chegará um novo pároco. Estamos para ver como será nesta e noutras coisas. (Teresa)
Amanhã inserirei uma nova ajuda, enviada por um Chefe escuteiro.
Espero que diante destas partilhas também os não-padres se sintam obrigados a contribuir para uma séria renovação da celebração deste sacramento.

Confissão e "confissões" - debate 1

Ao meu convite do post anterior sobre este assunto, reagiram, de imediato, 4 pessoas: 2 padres, e 2 não-padres (1 homem e 1 mulher).
Hoje deixo, para já, os dois primeiro: um padre de Cabo Verde e um homem de Portugal.

Diz o P. José Borja:


Salve, padre

Obrigado pela sua partilha. Tem razão. As formas e a criatividade podem e devem mudar - de acordo com o texto, mas o essencial deveria ser manifestado por gestos e cânticos e outras manifestaçóes do rosto da misericordia de Deus. Este é afinal, o centro daquele encontro e não «o recitar» dos pecados.

O sacramento da confissão ou da reconciliação, de que as pessoas têm ainda «muito receio» ou a que infelizmente, não atribuem tanta relevância, porque mal conhecem, deveria ser um espaço de humanizaçáo e da experiència da misericórdia de Deus. Isto não acontece porque os ministros da confissão nao têm tempo, evocam ter muita gente para «atender» e acabam não atendendo de facto, porque a rotina não permite «encontrar-se» com a pessoa e o penitente,s e clhar, «não se encontra» com o Deus misericordioso que lhe deveria ser apresentado.

 Eu, por exemplo, prefiro «atender» a pessoa num espaço distinto da Igreja, para evitar a pressao das «filas» de quem mais espera a sua vez de confessar do que a beleza de encontrar-se com o Deus que a acolhe e perdoa e ajuda a caminhar.

Neste ano da misericórdia, o Papa tem dado dicas muito importantes de como transformar o sacramento em encontro e evitar a «pressão» de apenas contar os pecados.

Afinal, é tempo ainda de fazermos uma pastoral deste belo sacramento de modo a mostrar o que ele é:  um excelente lugar de revelação do rosto do Pai que acolhe o filho que volta arrependido. Mais isto do que o habitual tribunal onde cada um leva as suas «acusações» e mal se apercebe do perdão que se lhe dá (se calhar nem ouve nem entende as palavras da absolviçáo). Afinal, o filho «pródigo», não disse muita coisa e o Pai apressou-se a fazer uma festa de acolhimento que causou grande choque ao irmão mais velho.

Vamos a tempo. O Ano da misericórdia vai chegar ao fim, mas A MISERICÓRDIA de Deus há de sempre ser revelada ao mundo sedento de um Deus assim mesmo: pura misericórdia.

para finalizar mesmo: se os cristãos descobrirem este rosto verdadeiro de Deus (e não a sua caricatura), não haverá muita falsa crise de fé. O que acha?

Padre Zé

Seminário S. José

Cabo Verde
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E diz o José E. Tendeiro:


Pela minha parte, aplauso, aplauso, aplauso.
Posso mandar isto ao teu quase conterrâneo P. Manuel Fernandes?
Pela tua clarividência um abraço amigo. (José Tendeiro)


Amanhã ou daqui a dias inserirei as outras opiniões/partilhas sobre assunto tão delicado. Mas continuo à espera de mais. Quem preferir aparecer como anónimo pode optar por tal ou utilizar um pseudónimo que eu, obviamente, respeitarei. Mas personalizado é muito mais interessante....

Confissão e “confissões”



Nas minhas andanças por esse mundo além, aconteceu-me, como tantas vezes acontece a um padre, ser convidado a “ajudar” nas confissões.
Tratava-se de grupo específico, na rota da sua preparação para uma peregrinação à Terra Santa.

Aceitei com um misto de sentido de serviço mas também de curiosidade: provavelmente, iria ser parte de uma celebração penitencial criativa e sugestiva. Tinha ténues motivos para essa esperança.

Enganei-me. Depois de uma brevíssima introdução do pároco, presidente do acto a que não posso chamar “celebração penitencial” nem mesmo semelhante a muitas outras que já se praticam um pouco por todo o lado do mundo católico – apesar da recitação conjunta e breve do “confesso a Deus todo poderosos e a vós irmãos” -, os 6 padres presentes são distribuídos cada um por seu canto esperando os penitentes. Pura rotina!
Sem surpresas, chega-me uma primeira penitente em trajes tais que qualquer pessoa frequentadora destes espaços poderia ter sido tentada a aconselhá-la a ir vestir-se um pouco melhor. Mas, enquanto se aproxima, é para mim evidente a simplicidade da jovem.

 Senta-se e, de novo sem surpresas, vejo que nem sabe bem como começar a “sua confissão”. Para a ajudar a sair do embaraço pergunto “mas então o que veio fazer aqui?”. Resposta pronta: “Dizer os pecados”. Com um pouco de mais algumas palavras de ajuda lá chegou a formular “Pedir perdão a Deus”.

Então, antes de mais, faça isso, peça perdão a Deus, disse-lhe. E ajudei-a a formular uma petição bem pessoal que acabaria na fórmula mais que tradicional e bem acertada: "Pai, perdoai-me porque pequei".

Fórmula simples e orante que, com nova e subtil ajuda minha, repetiria 2 vezes, já com visível mudança do rosto, agora já orante e recolhido, escutando, também recolhidamente, e de olhos fechados, a minha oração de acolhimento, enquanto lhe pousava, levemente a minha mão sobre a sua cabeça:

"O Espírito de Deus desça ao teu coração para, com sinceridade, possas confessar, na sua presença, os teus pecados".


E abri caminho para aquilo que ela dizia que vinha fazer: dizer os pecados.
De novo, lá tive de a ajudar a fazer algum esforço de identificação de actos / coisas feitas, que ela considerava “pecado”. E, claro, ajudei-a a ir um pouco mais fundo, a dar conta, sobretudo, das “omissões” que bem descaracterizam a identidade de sermos discípulo de Jesus Cristo, embora muito religiosos, sobretudo a atenção aos outros, nas mais diversas circunstâncias. Estávamos, estamos ainda, no auge dos fogos e dos apelos de apoio da Cáritas! Mas disto, destes apelos, ainda não tinha dado conta!


Curiosamente, as outras 5 ou 6 pessoas que “confessei”, todas foram directas à “lista dos pecados”,  o trivial que todos já conhecemos e que, felizmente, nem tinham qualquer gravidade. Um jovem que, apesar da motivação imediata da confissão ser tão só a viagem peregrinante, foi de uma “perfeição” e densidade espiritual invulgar. Colocava, tão somente, o problema do seu crescimento interior! Mas foi um cometa na vulgaridade do que ali acontecia.

Mas volto ao ponto de partida:
1.      Como é ainda possível que persistam formas de celebração, tão rotineiras e, a meu ver, tão pouco pedagógicas, de um sacramento sempre dito tão relevante na vida cristã?
2.      Quando se conseguirá que os padres – principais agentes desta pastoral – passem a ser elementos transfigurantes desta celebração que incida mais na consciência da misericórdia e do perdão do que na acusação – às vezes inútil – dos pecados?
3.      Como foi ainda possível, numa celebração com um fim tão específico, prescindir pura e simplesmente do alimento da Palavra de Deus que, na evocação de figuras peregrinantes como Abraão, Moisés, Elias, Paulo, e tantas outras, teria uma riqueza inaudita?

E como eu ia disposto a partilhar mais uma celebração rica e de qualidade!
Ia com a secreta esperança de comparar com as riquíssimas celebrações que desde há 30 anos Deus me foi dando nas Pequenas Comunidades de Murrupula, Marrere e Malatane e que deixei indiciadas no caderno “Penitência e Confissão dos Pecados – Por que sim?”, e que já ensaiei também em Portugal com grupos de casais mais e menos jovens, sempre com grande satisfação.


 
A riqueza da criatividade litúrgica das jovens comunidades de Nampula deixo-a apenas indiciada nas imagens que ilustram este texto. 
 


Todas se reportam apenas ao momento da "Confissão dos pecados"
sempre vivida com íntima e profunda devoção, de quem acolhe o Espírito Purificador de Deus Pai e seu Filho Jesus, depois de uma cuidada partilha da Palavra proclamada!

Talvez, por contraste, possam ter alguma utilidade também fora dos espaços nampulenses.
  


Um velho e respeitado membro de uma comunidade, por sinal, quase cego, ecoando a Palavra escutada, confessa os pecados da
sociedade envolvente. Comovente!

 






O significado purificador da Água batismal é, assim, intrinsecamente trazido para o imaginário de todos os participantes. O canto, sempre encantador em África, ajuda-nos a penetrar e a viver tão íntima celebração.

Talvez tenha interesse receber opiniões sobre esta reflexão.
Aguardo-as no meu email: zeluzia@gmail.com

Páscoa da Irmã Maria de Jesus


 AVÉ MARIA!



 




Páscoa da Irmã Maria de Jesus Calvo Ariño
Mosteiro Mater Dei - Nampula - Moçambique

Hoje, dia 10 de Março de 2016, adormeceu no Senhor a nossa querida Irmã Maria de Jesus Calvo Ariño e nós, as suas Irmãs, confiamos que, ao despertar, contempla já FACE A FACE, AQUELE A QUEM AMOU E SE ENTREGOU

Palmira Calvo Ariño, nome de baptismo, nasceu em Miravete de la Sierra, Teruel,  Espanha, a 10 de Novembro de 1934.
 
Quarta filha de nove irmãos, sentindo-se chamada a seguir o Senhor, com 18 anos, comunicou a um sacerdote ancião que lhe deu uma lista de congregações para escolher. Ela disse ao padre que escolhesse as que fossem mais pobres.

Assim, a 18 de Março de 1954, entrou nas Servas de Santa Maria, em Madrid, cujo convento fora destruído na guerra civil espanhola, pelo que estavam hospedadas numa casa religiosa.

Iniciando seu noviciado, foi lhe atribuído, segundo o costume daquele tempo, o novo nome de Maria de Jesus.

 Em 1973, com 38 anos, ofereceu-se como voluntária para a fundação em Nampula, Moçambique, para onde partiu, juntamente com mais quatro monjas, em Julho do mesmo ano. Depois de muitas aventuras na viagem, sobretudo de espera, em Portugal, da autorização do governo, ainda o colonial de Lisboa, chegaram a Nampula a 17 de Dezembro de 1973.

Dentro deste espírito de doação e serviço, ocupou os cargos de Vigária, Ecónoma e Mestra de noviças, tendo por primeira e última vez, doze delas.
Durante toda a sua vida consagrada destacou se por sua piedade, fidelidade e coerência na sua vocação, estando sempre disponível para servir a todas as monjas que dela precisassem, particularmente na costura, de que era verdadeira artista.

O seu santo exemplo perdurará para sempre no coração de todos os que a conheceram. Perseverante na oração, austera na alimentação e nos seus haveres (sendo encarregada da roupa, tudo usava remendado).Obediente e verdadeira irmã de todas e cada uma, tendo grande delicadeza para com os pobres e as crianças órfãs.

Dia 18 de Março, cumpriria 62 anos de vida monacal e, em Setembro, celebraria 60 anos de consagrada.

Começou a ficar doente em Janeiro, com febres contínuas e partiu sem se encontrar a causa dessas febres. Assim partiu para Deus, porque Ele, mais uma vez, pronunciou seu nome para  a VIDA EM PLENITUDE. O Senhor lhe disse hoje: ” Vem esposa de Cristo, recebe a coroa, que EU  te preparei desde toda a eternidade”.

Vai nossa Irmã! Entra na alegria do teu e Nosso Senhor!

Ajuda-nos na nossa caminhada para Ele, para que possamos ser fiéis e corajosas nas adversidades, alegres na Esperança que jorra da sua presença nas nossas vidas, perseverantes até ao fim, sem condições, sabendo que no fim da caminhada seremos examinadas no AMOR.

Sabemos que a partir de agora a tua presença na comunidade será mais plena e fecunda do que o foi na terra.

Apresenta a Jesus as preocupações das nossas comunidades, nesta peregrinação terrestre.

Pede a Bênção para toda a família que hoje chora esta separação temporal desde longe, embora louvem a Deus pelo exemplo da tua vida.

Com Jesus, a Santíssima Virgem e os Santos, prepara-nos o nosso lugar na Glória Trinitária, no coração de DEUS, para celebrarmos juntas, um dia, a festa do Amor Eterno.

Até já!
                                 TUAS IRMÃS SERVAS DE SANTA MARIA