As estradas da minha Páscoa
Dos piores troços onde ainda temos de passar, apesar do enorme esforço de reposição |
Deus, que “escreve direito por linhas tortas”, enviou-me a
cuidar das comunidades de uma pequena paróquia de Malatane, criada em 1907, na
zona de Angoche, plantada à beira do Índico. É linda, ecologicamente
ainda não muito estragada, salvo algumas agressões nas dunas da zona mais
deliciosa, a estrada a caminho da Sangage. Os agressores são os chineses
devidamente – creio – autorizados para explorarem as areias pesadas da zona.
Na primeira semana de Março as inundações, verdadeiras
calamidades naturais,
deixaram esta zona cortada da comunicação viária do resto da província. Retido em Nampula à espera de sinal de poder cruzar, já me conformava com a hipótese de não poder vir celebrar a Páscoa com as 12 comunidades que integram a paróquia.
deixaram esta zona cortada da comunicação viária do resto da província. Retido em Nampula à espera de sinal de poder cruzar, já me conformava com a hipótese de não poder vir celebrar a Páscoa com as 12 comunidades que integram a paróquia.
Mas, na Segunda-Feira Santa, tive um lamiré: já se passa via
Liúpo. Os meus amigos padres verbitas, ainda sem grande convicção, confirmaram
.”ouvimos dizer que sim”. Decidi, por isso, meter-me a caminho, disposto a
todas as aventuras.
Saí de Nampula na Quarta-Feira Santa, pelas 9 da manhã e,
pelas 5 da tarde, chegava a Malatane (Angoche) tendo deixado pelo caminho
(Liúpo) os meus amigos padres Marcelo e Jimmy com o Irmão Moacir (Verbitas)
algo suspensos sobre o que me poderia acontecer….
Já tinha feito a zona menos
destruída (Nampula-Corrane-Liúpo – 100 Kms) em 4 horas. Estava curioso sobre o
que me esperava na última etapa… de cerca de 70 Kms. Pontes destruídas, mas, sobretudo, pontes
cortadas do acesso por destruição da estrada… Dois troços tinham sido, entretanto,
precariamente, repostos, contornando a ponte e optando pela parte baixa …
esperando, naturalmente, que outra catástrofe climática não se repita por ora.
E aqui estou, nestes dias santos de Páscoa, usufruindo da
paz e da beleza paisagística deste Éden, partilhando a pobreza das gentes ainda
tão longe dos benefícios da vida material e tão ricos de Deus!
Entretanto,
cumpro o programa que os Animadores tinham delineado em alternativa: se
conseguisse ou não chegar. Ontem, Quinta-Feira Santa, na Comunidade de
Coroma, por sinal no mesmo caminha/estrada por onde entrei no dia
anterior, tivémos uma rica celebração da Ceia de Jesus que, depois, se
prolongou por uma interessante Vigília Eucarística mais rica e
participada quando eu me retirei da presidência e a espontaneidade dos
simples se manifestou. É sempre tempo de dar o lugar aos mais simples e com eles aprender.
Uma
única vela dava LUZ aos circunstantes e alumiava
, também, o Pão Eucarísitco suportado num lindo cálice de fabrico local! Foram 3 horas ricas pela noite dentro.
, também, o Pão Eucarísitco suportado num lindo cálice de fabrico local! Foram 3 horas ricas pela noite dentro.
Jesus, a caminho do calvário, teve uma caminhada
infinitamente mais dura e apesar das mulheres de Jerusalém, porventura a
tentarem consola-lo, só 3 dias depois mostrou o sentido de todas as calamidades
com que nos vamos tratando nesta face da terra que já foi edénica!
Mau sinal: o noticiário desta manhã dizia que !Homens
armados da Renamo tinham atacado posições das FADM na Província de Gaza. Fico
circunspecto e inquieto. Que significa esta mã notícia em dias de Páscoa e após
a mesnagem do Presidente Nhussi!